06 outubro, 2009

Pena

Aquela fila interminável de escapamentos, e já estávamos sem paciência, dentro do carro que vencera centímetros nos últimos minutos. No alto da ladeira, uma caminhonete estava encalhada, quase náufraga – os pneus afundavam sob o peso de quilos de banana, tangerina, maçã e morangos.
“No meio da pista, que filhoda...” mas aí, no meio da ofensa, parei – como ele parara, no meio da subida incompleta.
Um bigode honesto, quase arrependido, saiu do carro – filho de uma, como a minha. Tentou subir as ladeiras do Morumbi com a caçamba cheia de frutas, mas os deuses não deixariam que ele galgasse esse Olimpo.
Só pensamos em descer do carro para ajudar a empurrar quando viramos a curva e vencemos o trânsito. Só pensamos.
Em minutos veio a chuva, molhou as frutas, levou embora a encomenda mas não lavou a pena.

Diálogo

I: Opa. Vamos comer?
K: Já peguei o endereço do Zé do Hamburguer. Fica na Caiubi.
I: Ah, perto da casa do Cavechini!
K: Você sabe onde fica?
I: ... não...
K: ...?