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21 julho, 2009

Rejeição

"As razões de minha recusa são múltiplas, mas não se preocupe, agirei com clemência. Em primeiro lugar, devo dizer que vosso manuscrito oscila, do princípio ao fim, entre o banal e o desinteressante. O que deveria ser literatura se transforma, na verdade, em poderoso sonífero. Devo reconhecer que emana de vossa prosa uma tênue musicalidade, mas, infelizmente, essa ladainha é antiquada, e o refrão é tedioso. Não pretendo arrasá-lo, porém devo dizer que raramente li um texto tão coalhado de defeitos. Que fazer? Apesar de todo o empenho, o senhor não tem talento.
(...) O senhor é livre para efetuar novas tentativas, ou para ter o bom senso de se curvar ante meu veredicto."
(“Vaticinador”. In: A arte de recusar um original, de Camilien Roy, p. 43)

03 maio, 2009

"Se eu pudesse" - Pedro Mexia

"Se eu pudesse
ter-te
em vez dos
versos
ou ter
um verso
em vez
de ti"

("Se eu pudesse" - Pedro Mexia - Avalanche)

02 maio, 2009

Tom's Dinner

And I look
The other way
As they are kissing
Their hellos

And I'm pretending
Not to see them
And instead
I pour the milk

(Suzanne Vega - "Tom's Dinner" - Solitude Standing [1987] - a versão original a capella não é frustrantemente mais adequada para enfrentar essea dias solitários e distantes?)


20 abril, 2009

Os novos dez mandamentos em post-its – Ivan 8,3

1. Não age somente em prol de bem maior ou como se teus atos fossem regra universal, mas também fazê-o como cavaleiro medieval, gentleman britânico ou como o Superman ou outro personagem de HQs – e de preferência da forma que te traga mais dor, mágoa, rancor ou nobreza.
2. Não mentirás, nem sonegarás, nem trairás, nem matarás, nem prejudicarás ninguém (nem se ele merecer), muito menos divertir-te-ás.
3. Ama, acima de todas as coisas, a mim, seus pais, seus irmãos, seus semelhantes, seu país, sua empresa, seu time, a natureza, o desenvolvimento sustentável, você e todas as coisas, nessa ordem.
4. Não perderás nem ignorarás suas tarefas anotadas em post-its, ou serás condenado à danação e ao esquecimento das senhas do net-banking.
5. Ria sempre do seu próximo como ele riria de ti mesmo.
6. Guarda os domingos para depois.
7. Para cancelamento da fatura, verificação do saldo, desespero ou crise com namorado, tecle 8, ou aguarde para falar com um dos nossos operadores.
8, 9 e 10: Em caso de dúvidas, desliga e liga de novo.

08 fevereiro, 2009

Cafés




















(Wanderlust)


Black as the devil
Hot as hell
Pure as an angel
Sweet as love
(Talleyrand)


Negro como a noite
Forte como o pecado
Doce como o amor
Quente como o inferno
(Café Suplicy)

06 fevereiro, 2009

Escrever para não viver

Evitar o ridículo poderia ser um objetivo para qualquer escritor. Mas inviabilizaria qualquer outra palavra depois de “Eu...”.
Não consigo ler essas frases aí embaixo e sentir um pouco de vergonha pelo ridículo de escrevê-las – e mais, embaraçoso ainda, publicá-las. Mas evitar o ridículo seria fugir de mim mesmo e ignorar meu mundo.
Talvez seja circunstancial: não dá pra levar a sério um cara mal barbeado, de samba-canção, camisa aberta no peito, chapéu panamá e um sóbrio bloquinho de anotações preto.
Há algo de ridículo no próprio ato da escrita. Se pudesse beijar Helena ou saquear Tróia, Homero não gastaria horas com a Ilíada.
Mas a tentação é grande demais: como não registrar algo como “os gestos dos heróis não precisam de adjetivos; a única ação para alguns escritores envolve tinta, suor, dores nas costas, miopia e calos nos dedos”?

05 fevereiro, 2008

Criação

A partir de uma só seção do tronco sólido, dividi-la em quatro faixas finas e firmes, uma base redonda, mais oito filetes curtos e um grosso e longo para o suporte das costas.
Ainda com o dedo mordido pelo martelo e as costas latejantes pela incômoda posição da serra, o conforto de descansar as pernas num banco seu – não só porque você o possui, ou porque está reservado para seu assento, mas porque você o fez, você o criou a partir de uma só seção de tronco sólido e o transformou em repouso.
Você poderia lixá-lo, cobrir com uma camada da tinta que sobrou do telhado, mas aí seria outro banco, menos rústico, menos seu.
Enquanto você está trabalhando, durante o dia, os netos se apóiam nele para roubar biscoitos. O cão dorme encostado nas suas pernas enquanto você viaja para a cidade.
Muito depois de você ter ido, ainda haverá quem possa ocupar o seu lugar. Mesmo quando todos os que já ouviram suas histórias se forem, qualquer pessoa ainda poderá descansar na sua sólida criação.
E assim será até que o fogo o consuma e apague.

20 janeiro, 2008

Dois mil e oito e vinte dias

Escrevo dez páginas ao dia.
Se tivesse começado a escrever um livro no dia primeiro, já teria duzentas e teria escrito um livro.
Em uma hora de corrida moderada, completo oito quilômetros (mais que isso o joelho e o pulmão não agüentam na atual forma física cilíndrica).
Em vinte dias, já teria emagrecido quatro quilos, talvez cinco, e não teria mais um terceiro dígito na balança.
Leio vinte páginas por hora.
Com cinco horas de leitura diárias, teria lido 2.000 páginas e não teria mais uma estante ocupada com livros virgens.
De carro, são cinco horas até o Rio.
Poderia ter visitado ela 48 vezes – imaginando que tudo o que conseguiria dizer levaria somente poucos minutos.

17 janeiro, 2008

Receitas para dor alheia

Acordei com uma dor no braço diferente da costumeira.
Meu médico recomendou uma dieta rica em cálcio.
No shopping, um colchão novo prometeu serenidade em oito vezes sem juros.
Meu psicanalista me perguntou se minha mãe condenava o onanismo.
Ela diz que eu devia parar de escrever tanto até tarde.
O mecânico acha que o câmbio está custando para engrenar da primeira para a segunda e precisa de um novo alinhamento.
Meu chefe me deu o resto do dia de folga e disse pra encomendar um teclado ergonômico.
Minha avó me benzeu, puxou três rezas segurando uma colher de água e me deu pra beber instantes antes de, coincidentemente, parar a dor.

14 janeiro, 2008

Objeto da arte

Enojado de mim, fujo de casa para naufragar na noite. Sozinho: que posso fazer se as melhores idéias me vêm sem companhia?
Longe, esboço enredos para romances literários ou reais. Quando o dia vence, volto pra casa e consigo escrever só poucas frases – umas oito, no máximo, que guardo neste meu inconsciente coletivo.
Claramente, eu já fiz minha escolha entre a criação e a memória. Depois de feito, de que vale guardar algo que já foi um pedaço (só) meu?
Criar sem lembrar é ter para sempre um momento perdido. (Se gostaram, tomem nota dessa)

13 janeiro, 2008

Something

Ele cantava “Something” toda errada. “Something in the way she woos me” soava como “she uses me”. O último verso "I don't want to leave her now / You know I believe, and how" era "You know I don't even know how". O começo do refrão "You're asking me will my love grow / I don't know, I don't know" se transmutava em algo como "You're asking me if I’ll let go".
No quarto, comecei a procurar o encarte para mostrar a letra certa. Prudência e uma licença poética me fizeram desistir a tempo. Afinal, gostava mais da versão dele. Talvez os Beatles é que estivessem errados.

06 janeiro, 2008

Procura-se: (de) novo eu

Método e dedicação de vestibulando/2000
Cintura e peso modelo 2001
Humor de 2002
Amigos de 2003
Paixão (a mesma) desde 2004
Jornalismo e viagens como em 2005
Nada de 2006
Cabelos de 1997

18 novembro, 2006

Trocando em miúdos

1. Uma metáfora é o melhor jeito de dizer o que se quer, sem ofender.
2. (Não confunda com o ato falho, que é o pior jeito de se dizer o que não se quer, sem querer).
3. Vamos supor que você brigou com o seu pai, porque ele não te deixou viajar no final de semana em que você planejava dormir com seu namorado.
4. Aí, na falta de um ombro amigo, você senta e descarrega sua frustração no papel por meio de um jogo de palavras e imagens; recomendo associações livres.
5. Dessa forma, seu pai vira uma chuva, seu namorado se transforma em um pedaço de bolacha e o final de semana é um piquenique que uma formiga – você! – invade.
6. Ocorre que, honestamente, ninguém vai entender o que significa aquela formiga bombardeada por uma tormenta de orvalho, nem como a garoa conseguiu formar um filete de rio que levou a bolacha embora e afogou o inseto guloso.
7. Nesse momento, não entre em pânico: seu texto saiu do controle (muito freqüente nessa época do ano), mas ainda há tempo de abandoná-lo com segurança.
8. O problema real só começa quando você percebe que seu pai, baby, também era uma metáfora.

05 novembro, 2006

Metonímia para uma empreitada americana

1. Empreiteira americana desiste de reconstruir Iraque
2. "A Brechtel, maior empresa de engenharia dos EUA, está deixando o Iraque, depois que 52 dos seus funcionários morreram em atentados e seu último contrato venceu.
3. Está partindo sem cumprir sua missão: reconstruir as centrais de energia, água e esgoto.
4. Bagdá recebeu menos de seis horas diárias de energia no mês passado e a maioria da população não tem água tratada e saneamento básico.
5. A maior parte da verba de US$ 21 bilhões destinada à reconstrução foi usada nos últimos anos para a segurança e não há mais dinheiro em caixa.
6. Alguns funcionários permanecerão no país para cumprir formalidades administrativas, mas o trabalho iniciado após a queda de Saddam Hussein, em abril de 2003, foi encerrado, disse Cliff Mumm, diretor de infra-estrutura da empresa.
7. A Bechtel assinou 99 contratos, mas eles foram abandonados por questão de segurança." (AFP e NYT)
8. Peço desculpas pelo teor jornalístico dos últimos dias - em breve retomaremos a programação normal - mas não podia deixar o momento político dessa história passar.

03 novembro, 2006

31 outubro, 2006

"Why I Write" - George Orwell

8. "All writers are vain, selfish and lazy, and at the very bottom of their motives there lies a mystery." (p10)
1. "Putting aside the need to earn a living, I think there are four great motives for writing, at any rating of writing prose"; (p4)
2. "Sheer egoism – desire to seem clever, to be talked about, to be remembered after death, to get your own back on grown-ups who snubbed you in childhood, etc. etc." (p4)
3 e 4. "Aesthetic enthusiasm – perception of beauty in the external world, or, on the other hand, in words and their right arrangement. Desire to share an experience which one feels is valuable and ought not to be missed." (p5)
5. "Historical impulse – desire to see things as they are, to find out true facts and store them up for the use of posterity." (p5)
6. "Political purpose – (…) desire to push the world in a certain direction to alter other’s peoples idea of the kind of society that they should strive after." (p5)
7. "I write it [a book] because there is some lie that I want to expose, some fact to which I want to draw attention, and my initial concern is to get a hearing." (p8)
(“Why I Write”, George Orwell, 1946)

26 outubro, 2006

“The Old Man and the Sea” – Ernest Hemingway

1. “You violated your luck when you went too far outside.
2-4. ‘Don’t be silly’, he said aloud “and keep awake and steer. You may have much luck yet. I’d like to buy some if there’s any place they sell it’, he said.
5. What could I but it with? he asked himself.
6. Could I buy it with a lost harpoon and a broken knife and two bad hands?
7, 8. ‘You might’, he said. ‘You tried to buy it with eighty-four days at sea’. ” (p117)
(“The Old Man and the Sea”, Ernest Hemingway, 1952)

19 outubro, 2006

Banquete

1. De aperitivo, Morphine fatiado bem fininho com um copo de Baden Powel.
2. Depois, salada Green Day com queijo Ray Charles.
3. Nos dias mais frios, recomendo também um caldo do mangue de Chico Science.
4. Para dar um toque especial ao filé de Led Zeppelin, uma pitada (pequena, se não perde o sabor original) de Sex Pistols.
5. O molho Metallica pode ser feito com ou sem pedacinhos de Elvis.
6. Chico a gosto (eu normalmente ponho bem pouquinho, por causa da pressão, mas há quem não viva sem ele).
7. Para beber, uma taça de um Piazzolla suave.
8. De sobremesa, Fionna Apple.