Relação-pílula
Você conhece alguém num restaurante, por exemplo.
É alguém que você nunca viu, e de quem pode conhecer muito pouco – se as mesas tiverem toalhas, não poderá saber nem se ela está de saia ou de calça –, em comum só podem compartilhar uma paisagem, um intervalo de tempo, uma coincidência.
Apesar disso, é difícil não imaginar a textura do seu cabelo entre os dedos, o tom da voz enquanto revela segredos, a preferência por berinjelas em fatias ou cubos.
Mais difícil, impossível, é aproximar-se e dividir uma mesa, um sorriso, uma história.
Como é natural, as contas são separadas, cada qual depositada em sua mesa e debitada em seus respectivos cartões de crédito.
Entre uma página e outra do jornal, percebe o lugar vazio e um toque adocicado no ar que corre da janela para a porta, como a trilha de uma fuga sem alerta prévio.
Você não vai conseguir dormir essa noite de novo. Não pelo que poderia ter sido, mas porque sabe que não teria sido tão diferente desse resumo condensado de mais um desencontro.
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