08 fevereiro, 2008

Writers’ block

O mundo pode ser um palco – mas, para os roteiristas, ele é bidimensional, branco, tamanho A4.
Foi um ataque fulminante de writers’ block, bloqueio dos escritores, justo quando esboçava a peça da sua vida.
A peça não era somente aquela que o revelaria, a que o tornaria quem ele sempre deveria ser. Era também a história da sua própria vida, e chegara naquele culminante momento no mesmo instante em que as palavras resolveram lhe abandonar.
Passou os próximos dias sem conseguir se mover, os dedos tensos como garras de um falcão a espreitar suas vítimas, mas mantendo a distância prudente entre a tecla que desencadearia todas as outras. Inutilmente tentava narrar o ato de escrever a frase da guinada, mas não conseguia ler (como ator da peça de sua vida) a palavra que deveria datilografar – era uma armadilha paradoxal, mas sem escape.
Dois anos depois que o encontraram morto aos pés da máquina de escrever estéril, estreou a peça baseada no seu drama. E a verdadeira tragédia, notem, é que ele não pode escrever o próprio ato final, justamente aquele que antecedeu os aplausos.

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