Conto de fadas
De tanto ser arrastado pelo braço, o ursinho de pelúcia acabou descosturando; rasgou e foi esquecido no fundo do armário (de que serviria um urso que só pode dar meio abraço?). Lá encontrou uma bailarina de porcelana que perdeu uma mão quando caiu da prateleira.
Ele tinha sido usado demais; ela não tinha recebido a atenção que sua delicadeza exigia.
O encaixe era perfeito: com o apoio do outro membro da bailarina, o ursinho podia voltar a abraçar; pela primeira vez na vida a bailarina ganhava um par para a dança.
Mas esse Frankenstein de pelúcia e porcelana era escorregadio, instável. O urso não achava buracos na superfície de porcelana da bailarina para poder se costurar junto a ela. A bailarina tentou derreter o tecido do urso para amalgamar-se, mas o queimou.
Eles andam juntos, trôpegos – o sorriso costurado do urso nega, mas seus olhos de botões ainda tateiam em busca de um tecido macio para se amarrar com um fio de matrimônio.
2 comentários:
eu achei esse conto tão lindo quanto um dos primeiros contos de fadas que eu li, o soldadinho de chumbo, que aliás, era meu favorito. é. (apesar que chumbo dá câncer, né galere).
nossa. me identifico.
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