13 julho, 2009

Turn yourself back to me

A sala silencia sem o compasso dos seus saltos altos pelo corredor; as paredes ainda ecoam as sombras dos seus últimos passos. Espero no escuro, desde que você desligou o interruptor, segundos antes de fechar a porta.
Náufrago, me afogo no lago nítido de um espelho que evidencia a falta que você faz para a minha barba. Uma fina camada de poeira denuncia os cinco longos dias em que as pontas dos meus sapatos não morderam os bicos dos seus. A louça eu lavei, sozinho, no dobro do tempo – sei que você não vai querer uma pilha para te receber quando voltar. Porque você vai voltar amanhã.
De manhã, vou comprar creme e lâminas novas. Não são para mim; eu já sou todo para você.

3 comentários:

Mari disse...

Difícil mesmo parar de escutar... Ainda mais quando embala lembranças, como no meu caso.

Bjus

Clara Lemos disse...

Gostei do lance dos saltos (barulhos) e também da ausência na barba.

Delicado.

Acho que gostei mais do que do outro, porque esse tem final feliz, coisa que faz falta em dias frios como esses que correm...

Mariana Marchesi disse...

Entre os seus tantos superpoderes, acabo de descobrir mais um: este que vc tem de calar as palavras dentro de mim. E de fazer um silêncio morno e azulado, em que qualquer ruído meu se torna um excesso.

Estas mesmas linhas, eu as tiro com esforço; pois neste momento eu me sinto como uma sala vazia, aquecida de tapetes e almofadas adormecidos, onde só a tua voz ecoa em infra-som. Talvez acompanhada de doce trilha sonora.