16 novembro, 2006

Protegido

1. Quando tinha sete anos, o Collor ficou com a minha poupança.
2. Desde então, já fui roubado outras sete vezes, duas delas com arma na cabeça: o kadet da minha mãe em São Caetano; oitenta reais quando estava com o braço enfaixado em Santo André; dez reais quando voltava para casa do enterro de um amigo; minha carteira e a chave do carro (mas desprezaram o carro); e dois toca-fitas.
3. Uma vez levaram até minhas calças, mas deixaram as meias e a cueca, no meio de uma trilha em Paranapiacaba.
4. Minha previdência foi-se com o Banco Santos.
5. Um apartamento incendiado apagou o resto que guardei da minha vida.
6. Cada novo alarme, cada seguro, cada medida de prevenção me parecem tão injustos e violentos quanto os outros assaltos.
7. Acho que com o tempo eu fui me acostumando, e acabei percebendo que não tenho nada – as coisas estão só temporariamente sob minha guarda.
8. Mas ninguém pode tirar minha viagem para o Chile durante a faculdade ou aquele beijo que você me deu no sofá da casa da sua vó.

Um comentário:

Oito disse...

Óquei, minha aposentadoria está a salvo no Itaú e não passei por nenhum incêndio. Mas o resto é minha sorte em ação.