19 janeiro, 2007

Atlas

1. Eu abri os olhos sem acreditar no gigantesco monte de terra e rochas que aquele homem sustentava sozinho.
2. Tampouco ele pode acreditar em mim, pois, ao me ver, pareceu surpreso o bastante para quase perder o equilíbrio e derrubar aquela montanha invertida que escorava, pelo cume, com as costas.
3. Percebi que se tratava de Atlas, o herói grego condenado a sustentar o mundo por toda a eternidade.
4. Ele sussurrou algo quando tentei me afastar por puro medo instintivo – que só pude compreender quando me aproximei um pouco.
5. “Por favor, tenha piedade, me ajude”, balbuciou, a saliva da fala se misturando no suor que banhava sua pele.
6. Quis correr, nesse exato instante, com medo de ele suplicar que eu dividisse o seu fardo titânico – mas também temia que ele, furioso com minha fuga, derrubasse um pedaço do mundo (a Irlanda, talvez) na minha cabeça.
7. Paralisado, ouvi o gigante gemer um desejo tão antigo quanto o tempo:
8. “A perna esquerda... nnng... estou com uma coceira na coxa que... por favor!”

Um comentário:

Anônimo disse...

Putamerda( e vá desculpando o palavrão) esse foi um dos melhores que eu já lí aqui. Ironia na veia... e eu achei que ele fosse usar o mundo pra tapar o buraco de Pinheiros, em São Paulo