19 abril, 2009

O sacrifício do travesseiro mártir – Ivan 8,2

Meu travesseiro morreu na madrugada de ontem. Acordei de manhã do seu lado na cama e o chamei para o café, mas ele não se mexeu. Quando tentei fazer uma massagem para animá-lo, percebi que ele estava frio, imóvel. Em desespero, tentei chamar uma ambulância, mas as linhas estavam desconectadas desde que a humanidade acabou e desceu a serra para aproveitar o feriado no litoral.
Tentei reanimá-lo seguindo as instruções sobre ressurreição cardio-pulmonar que encontrei numa caixa de sucrilhos, mas toda vez que assoprava sua boca acabava coberto de inertes penas de ganso.
Conforme os desejos expressos em seu testamento, o enterro celeste seguiu o ritual budistas de dissecação. Poucos urubus comparecem para refestelar-se nas plumas que voavam, com o vento, para um lugar melhor, flutuando sobre a pista local da marginal Pinheiros, sentido Interlagos.
Nessa noite, enquanto adormeço no sofá reclinável da sala, um anjo ruivo surge num biquíni e me entrega os novos dez mandamentos em post-its.

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