28 abril, 2009

O toque da Peste com odor floral e tripla ação bactericida – Ivan 8,6

O abuso da feijoada, após sete refeições consecutivas, atrai a atenção da segunda cavaleira do apocalipse. Peste surge depois das 11 da manhã e justifica seu atraso pela febre do filho e a greve dos perueiros. Eu sorrio com pesar (sempre tenho dificuldade com essa mistura facial de aquiescência e ternura) enquanto sobreolho uma reportagem sobre os protestos em oposição ao fim da Humanidade.
Sem perder tempo, a demoníaca encarnação de tumores viscerais varre meus domínios e liga o aspirador enquanto tento, sem sucesso, assistir à reprise de House. A empregada rapidamente despeja suas toxinas e cobre os assoalhos da casa com vermes, fungos, bactérias e Ajax Flores Campestres.
Sinto-me intoxicado e sufocado pela presença de outra pessoa com quem preciso dividir o resto da Humanidade e lavar a louça. Minha esperança é o refúgio no único local onde nem mesmo baratas poderiam sobreviver ou fazer faxina. Faço meu abrigo instável no território clandestino, no cemitério radioativo, na terra-de-ninguém do Quarto do Meu Irmão, onde nenhuma mulher, luz do sol ou produto de limpeza jamais ousou ir – e lá eu espero pelos novos sinais da perdição entre garrafas de Pepsi Twist light e pacotes semi-vazios de bolacha.

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