08 maio, 2009

Cruzamentos

Ele formou-se engenheiro e assumiu o escritório da família. O outro seguiu a paixão não-correspondida pelos versos.

Enquanto rumava pela cidade em busca de inspiração, sempre a encontrava nas sombras dos edifícios da construtora com seu sobrenome.
Quando soube do ataque cardíaco, subiu ao alto da ponte que ele projetou para descer uma última vez.

No liceu, numa noite quase um século atrás, os dois colegas tinham sido um só e para sempre só deles, uma única vez.

Ao largo de toda essa trágica história, mas sem remediá-la, a Câmera de Vereadores aprovou na semana passada uma homenagem ao poeta obscuro: seu nome pouco conhecido será também o de uma viela pequena, na zona sul.
Sua pequena rua cruza com a avenida que o engenheiro planejou – e que também leva seu nome para a imortalidade de que foi privado.

Nessa esquina, num café, eu vou encontrar você um dia.

2 comentários:

Clara disse...

Às vezes o que a gente pensa que é encontro, é desencontro.

Ou ao contrário...

Oito disse...

E por falar em desencontro, esqueci a efeméride: esse foi o post 80. Junto com o oitavo, é um dos meus favoritos (não dá pra ser humilde no mesmo dia em que você ouve ser o favorito de alguém).