04 março, 2010

Sobre rodas

Você acorda sem acreditar que o relógio já deu a volta até o seis, querendo que fosse sábado ou que tivesse dinheiro – ou coragem – a ponto de mandar tudo rodar no inferno em que já estão.
Em minutos a colher gira para adocicar um café sem sal, você toma uma ducha pouco quente, escova a gravata e amarra nas costas a pasta, ou algo parecido, em outra ordem. Esses fatores podem mudar em casas vizinhas – já reparo uma maioria desgravatada, talvez para facilitar a passagem da corda para a forca ou da coleira ao redor do colarinho.
Mas o caminho passa pelas mesmas artérias bloqueadas no trânsito, com o destino na mesma mesa, uma safena e talvez a aposentadoria. Entre tantos outros, no carro, você procura o horizonte, engolido por tantos prédios com muitas mesas e gravatas.
Enquanto você reclama do mesmo trânsito e do azar que lhe sobrou na roleta das heranças, eu espero a enfermeira trazer a cadeira de rodas e me levar ao mesmo jardim. Nessa oscilação de destino repetitivamente indesejado, não somos tão diferentes. Mas você pode dirigir para outro lugar.

2 comentários:

Carla Magatti disse...

Adorei.. afinal::
O cansaço briga com o ócio! Poderiam fazer as pazes! Saudades e Bjo.. Carlinha

Luneta Serón disse...

muito bom, ivan! grande beijo, ana serrão