Com razão
A faixa de pedestres fica a uma dezena de passos da porta de casa no sentido contrário, mas ele faz questão.
Nenhum carro enquanto ele espera o sinal. Começa a cruzar a rua sob o holofote ao lado da câmera da CET.
Os passos ecoam na noite até serem engolidos pelo motor que desce solitário a rua.
Ele percebe o farol que se aproxima, mas não reduz os passos, protegido pelo homem verde luminoso, a poucos metros, na outra calçada. Ele está seguro de que não deve ceder à imprudência alheia.
Ela não desacelera, não vê farol nem homem verde ou de preto, nem a ironia de tudo isso.
Ele morre, com razão.