06 fevereiro, 2009

Escrever para não viver

Evitar o ridículo poderia ser um objetivo para qualquer escritor. Mas inviabilizaria qualquer outra palavra depois de “Eu...”.
Não consigo ler essas frases aí embaixo e sentir um pouco de vergonha pelo ridículo de escrevê-las – e mais, embaraçoso ainda, publicá-las. Mas evitar o ridículo seria fugir de mim mesmo e ignorar meu mundo.
Talvez seja circunstancial: não dá pra levar a sério um cara mal barbeado, de samba-canção, camisa aberta no peito, chapéu panamá e um sóbrio bloquinho de anotações preto.
Há algo de ridículo no próprio ato da escrita. Se pudesse beijar Helena ou saquear Tróia, Homero não gastaria horas com a Ilíada.
Mas a tentação é grande demais: como não registrar algo como “os gestos dos heróis não precisam de adjetivos; a única ação para alguns escritores envolve tinta, suor, dores nas costas, miopia e calos nos dedos”?

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